Rede de apoio
Um lar qualificado para fortalecer a Rede de Atendimento à Mulher
Centro de Referência Professora Cláudia Pinho Hartleben está em novo endereço
-Foto: Gustavo Vara - Prefeita Paula Mascarenhas participa da inauguração da Casa do Centro de Referência de Atendimento à Mulher - CRAM
Enquanto a artista urbana Joy finalizava sua obra autoral, o rosto de duas lindas mulheres, na entrada do sobrado da rua Marechal Deodoro, 1.698, próximo à avenida Dom Joaquim, Xana Gallo animava o ambiente interno da mais nova sede do Centro de Referência no Atendimento à Mulher em Situação de Violência Professora Cláudia Pinho Hartleben. O aroma de café e as iguarias na mesa davam a sensação de um lar de acolhida. E com essa proposta foi inaugurado nesta sexta-feira (17) o espaço que garantirá mais individualidade, segurança, conforto e qualidade para as vítimas de violência doméstica em Pelotas.
Com uma presença satisfatória para quem mobilizou setores da comunidade para tornar realidade o Centro - que antes era compartilhado com outros atendimentos prestados pela Secretaria de Assistência Social (SAS) - o cerimonial foi na entrada. "É uma luta de muitas mulheres. Quando chegamos na SAS, na época da pandemia, tinha mudado a forma de como se trabalhava o contexto social. Eram apenas 12 atendimentos para a cidade como Pelotas. Então lutamos para ampliar, fomos em busca dessas mulheres, aumentamos a equipe e o prédio ficou pequeno. Agora vamos poder fazer uma escuta sensível e trabalhar a autoestima dessa mulher", disse a diretora da Secretaria e coordenadora de Políticas Públicas para Mulheres, Manoela Rodrigues.
E como aumentou. Segundo a coordenadora do Centro, Paola Fernandes, a média mensal de atendimentos individuais chega a 250. "Pela primeira vez, em nove anos de Centro temos uma casa que é própria para a mulher, que possibilita aquelas que vem com filhos, proporciona a qualificação, através de projetos e oficinas", considerou. Ela lembra que esta é uma luta coletiva, com a dedicação de psicólogas, assistentes sociais. "O Centro de Referência está de portas abertas". O titular da SAS, secretário Tiago Bundchen, agradeceu as parcerias na construção desse sonho e destacou o desempenho da equipe em concretizá-lo. Por ser recente, o prédio alugado ainda precisa ser mobiliado, e quem quiser fazer parte dessa rede, doando móveis, é só entrar em contato com a SAS.
"A violência contra a mulher segue existindo. No mês da mulher, infelizmente tivemos um feminicídio, e a gente não pode se conformar", disse a prefeita Paula Mascarenhas (PSDB), ao lembrar que acompanhou o surgimento do Centro da Mulher, há nove anos, e destacou que o atendimento fortaleceu a Rede de Atendimento à Mulher, vítima que ainda conta com apoio dos movimentos da sociedade, proporcionado a Pelotas o título de referência nesse tipo de trabalho em rede, no RS. "Hoje, essa é a casa da mulher pelotense. Aquela que não se sentir acolhida ou se sentir desrespeitada, o Centro está aberto". Pelas estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do Estado, além dos dois feminicídios, em janeiro e fevereiro deste ano, Pelotas somou 169 casos de ameaça, 152 registros de lesão corporal e 14 estupros.
"Os números de violência não aumentaram. O que aumentou foi a notificação e ela só acontece por vários fatores, sendo que os principais são os serviços prestados e a eficiência deles na Rede", avaliou a juíza da Vara da Violência Doméstica da Comarca de Pelotas, Michele Soares Wouters. "Quando a mulher percebe que a vizinha saiu da condição de violência pelo trabalho das polícia, das políticas públicas, da justiça e todos os envolvidos na rede, ela vai criar coragem e vai denunciar. E a casa está pronta para recebê-la".
Conhecimento e qualificação
Todos os dados citados durante a cerimônia, o trabalho transformador do Centro e outros coletados sobre a violência doméstica serão levado ao governo federal pela vereadora Miriam Marroni (PT) que na semana que vem terá uma audiência com a ministra da Mulher, Cida Gonçalves e, com base nos dados, vai tentar políticas mais efetivas, como por exemplo do aluguel social para as mulheres, que só em Pelotas, são 19 mil que comandam seus lares. A petista e a vereadora Marisa Schwarzer (PSB) falaram em nome da Câmara de Vereadores, que também apoiou para efetivação da nova sede do Centro da Mulher.
Como funciona
As mulheres chegam ao Centro espontaneamente, por encaminhamento de alguma das instituições da Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher e pela busca ativa, por meio dos boletins de ocorrência registrados na Delegacia de Atendimento à Mulher e na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento. No Centro, as psicólogas e assistentes sociais da equipe ajudam a traçar planos para que a mulher saia do ciclo de violência e reconstrua sua cidadania. Também a ajudam com ações como encaminhamento de documentos, Cadastro Único, Bolsa Família, atendimento para os filhos, fortalecimento dos vínculos com a família para que a apoie e, caso ainda haja relação com o agressor, encaminham atendimento para ele também, ou seja, atendimento em rede para toda a família, independentemente da estrutura familiar ou classe social.
O Centro de Referência da Mulher também atende mulheres trans, lésbicas e travestis. O endereço atual é rua Marechal Deodoro, 1.698. Os telefones para contato são (53)3279-4240 ou 3279-4713.
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